A escola e a autonomia das crianças.


Por Leticia Paranhos


Antigamente, um aluno quieto, que não interrompesse a aula, não fizesse perguntas, era considerado o aluno modelo.

Fazer bagunça ou não, era uma das questões mais importantes para uma boa nota, mesmo que essa quietude fosse consequência de baixa autoestima, timidez, falta de autoconfiança e etc.

Mas isso é diferente hoje em dia, né? Nem sempre.



Mesmo que hoje seja feita uma certa conscientização, para mostrar que esse comportamento reprimido gera graves deficiências na autonomia do sujeito.

Alguns professores ainda exigem esse “bom comportamento” que na verdade é uma forma de bloquear a criatividade de uma criança cheia de dúvidas, e que poderia se interessar muito mais na aula, caso tivesse espaço para emitir suas opiniões.



Esse ensino repressor e autoritário, que não se importa com o indivíduo em sua subjetividade, retira o lúdico e o prazer em aprender. 

Ao aprender que não é bom expressar suas opiniões, ter novas ideias, fazer perguntas e errar, o aluno ou até filho “bonzinho”  perde a coragem e iniciativa.

Ao chegar no mercado de trabalho por exemplo, ele pode ter muitas dificuldades em relação à essa autonomia que lhe foi tirada e será um profissional dependente de instruções, opiniões positivas e etc.



Nas relações pessoais, pode ter muita necessidade de agradar a todos o tempo todo, e não conseguirá dizer não, podendo chegar a passar por cima de suas próprias vontades e valores para sentir que todos gostam dele.

As avaliações escolares hoje não são feitas mais de acordo com o bom comportamento de uma criança. Porém, os professores devem estar cada vez mais sensíveis e humanizados, para entender o aluno e os motivos que causam seu comportamento. 



Por outro lado, costumo dizer que um mau comportamento pode ser um sintoma de algo que está errado, algo que aquela criança não está conseguindo comunicar.

Assim, a forma que o inconsciente dela encontra de demonstrar que alguma coisa a incomoda, a machuca ou a preocupa é essa. 

Contudo, existe uma diferença entre o mau comportamento (aquele que é feito com o intuito de desagradar, chamar a atenção ou machucar o colega) e o comportamento espontâneo e as vezes naturalmente agitado de uma criança. 



Crianças com mau comportamento, devem ser observadas, as causas desse comportamento devem ser investigadas e tratadas. Enquanto o comportamento espontâneo deve ser acompanhado pelo professor, que ir extrair dele formas de  participação desse aluno, observar talentos que podem aparecer em meio à essa espontaneidade e cultivá-los. 

A autonomia possibilita a proatividade, estimula a capacidade de resolução de problemas, a construção de um pensamento crítico, a independência emocional, constrói a autoestima, o desenvolvimento do corpo e da mente.



É importante que os adultos não façam pela criança aquilo que ela pode fazer sozinha, para que assim ela consiga desenvolver novas habilidades, e confiar em si mesma. Se estimulados, alunos que  são considerados por alguns “mal educados", mas que na verdade são espontâneos, podem surpreender pais e professores.

Mais sobre a Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire.